... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

sábado, 2 de julho de 2011

A paz da manhã depois de ter sobrevivido...


"Quando acordei esta manhã no quarto úmido e escuro, ouvindo o tamborilar da chuva por todos os lados, tive a impressão de que havia sarado. Estava curada das palpitações no coração que me atormentaram nos últimos dois dias, praticamente impedindo que eu lesse, pensasse ou mesmo levasse a mão ao peito. Um pássaro alucinado se debatia lá dentro, preso na gaiola de osso, disposto a rompê-lo e sair, sacudindo meu corpo inteiro a cada tentativa. Senti vontade de golpear meu coração, arrancá-lo para deter aquela pulsação ridícula que parecia querer saltar do meu coração e sair pelo mundo, seguindo seu próprio rumo. Deitada, com a mão entre os seios, alegrei-me por acordar e sentir a batida tranquila, ritmada e quase imperceptível de meu coração em repouso. Levantei-me, esperando a cada momento ser novamente atormentada, mas isso não ocorreu. Desde que acordei estou em paz." (Sylvia Plath)

Despertei-me, ao som de Puccini e sentia-me leve e suave como uma pluma, sem a tortura dos pesadelos. Estava livre da angustia matinal que me atormentava a alma ocasionando o pranto rotineiro, sem os grilhões me aprisionando o espírito e cheia de vida novamente.

Nossa ! Há quanto tempo não me sentia assim, finalmente a vida retornou. Perdi mais de um ano sofrendo no âmago, a dor do fracasso de uma falsa relação. A tempestade passou e portanto, pensei, virá a bonança.

Olhei-me no espelho e fiquei orgulhosa de mim mesma, não havia preenchido meu espaço vazio com nenhum desavisado, possível vítima das circunstancias da minha solidão. Assim, não teria que trabalhar a culpa ou remorso de magoar a alguém. Aliás, sempre tive essa preocupação ética e sou tranqüila quanto à isso, nunca fiz com os outros o que não gostaria que fizessem à mim.

Havia tempos que me mantinha exilada, sem querer falar com ninguém e sofrendo solitária meu luto. Diante, da sobrevivência me veio a vontade de retornar as ligações que recusara atender. Então, comecei pela manhã mesmo a procurar pelas pessoas queridas que me faziam falta. Iniciei com dois amigos que aniversariavam, depois outros tantos que se alegraram como minha volta ao mundo.

Se, estou curada da depressão, não sei. Apenas, me sinto livre e feliz, pelo menos por hoje.

5 comentários:

  1. Olá, Ana!Lindo texto.Nós muitas vezes passamos por esses pesadelos. Ainda bém que existe um novo amanhã e temos chance de superar tudo isso! Grande abraço e um bom domingo...

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  2. Belíssimo texto Ana!
    Sempre é bom acordar de um sonho ruim,
    Quem dera se na vida real também fosse assim...
    Beijo grande.

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  3. Maravilha, esse é o retrato de muitas vidas...

    O bom é quando acordamos do pesadelo e não pra o pesadelo. rsrsrs

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  4. Oi Ana,
    Você escreve muito bem, gostei muito de tudo o que vi aqui.
    Beijos

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  5. Procurando pelo poema da Sylvia Plath, encontrei este post. Identifiquei especialmente com o trecho abaixo:

    "Olhei-me no espelho e fiquei orgulhosa de mim mesma, não havia preenchido meu espaço vazio com nenhum desavisado, possível vítima das circunstancias da minha solidão. Assim, não teria que trabalhar a culpa ou remorso de magoar a alguém. Aliás, sempre tive essa preocupação ética e sou tranqüila quanto à isso, nunca fiz com os outros o que não gostaria que fizessem à mim."

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