... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

domingo, 1 de julho de 2012

Um corpo sem alma...

“a infidelidade é uma quebra de confiança, a traição de um relacionamento, o rompimento de um acordo”.
“Uma mentira pode ser uma traição mais direta do que manter um segredo relevante, mas as duas coisas acabam sendo a mesma coisa”. (F. PITTIMAN in Mentiras Privadas)


Passava das 14h e Judite estava atrasada para nossa primeira consulta. Ao soar da campainha, após 40 minutos, abro a porta e me deparo com uma bela mulher, de estatura mediana, sem qualquer pintura na tez clara, longos cabelos lisos escuros com a raiz ausentando coloração, semblante entristecido, abatida pelas olheiras e vestindo-se de negro. O rosto inchado com os olhos vermelhos de chorar e fungando a coriza nasal que escorria, se desculpou pelo atraso justificando pelo engano do endereço.  

Cumprimentei-a com um aperto de mão e acenei para que entrasse e mal fechei a porta, Judite logo, despencou-se no sofá aos prantos soluçando por uns minutos. Ofereci um copo d'água e uma caixa de lenços descartáveis na tentativa de iniciarmos a consulta. 

Era visível que aquela mulher conseguiu heroicamente chegar ao encontro marcado se arrastando com correntes pesadas do desiquilíbrio emocional evidente. Pensei: O que será que a trouxe ? Separação ?

Aquela mulher tão sofrida e externando uma dor incontrolável se apresentava num corpo sem alma. Perguntei em que podia ser útil e de prima, narrou sua separação por conta de uma traição do ex-companheiro. Passavam-se dias deitada sem comer, sem banho e esperando morrer. Não conseguia mais trabalhar e estava em estado de total penúria vivendo da caridade alheia.

Instruí-la que necessitaria de uma pensão do ex-companheiro para sobreviver até se restabelecer. Mas, o principal era procurar um tratamento psiquiátrico urgente. Pois, temi pela iminência de um perigo de suicídio e era evidente seu estado depressivo, cuja mesma já havia tentado com a ingestão de vários comprimidos de clonazepam dormindo por 48 horas seguidas.

Dado a narrativa do acontecido, fiquei estupefata com a crueldade, a falta de afeto e de remorso dos envolvidos no caso extraconjugal. Tal descoberta, se deu no mês de comemoração de seu aniversário como espécie de presente grego e já durava uns meses. 

Humilhada, Judite ainda tentou dialogar com a amante que se manteve impassível e fria diante de seu sofrimento. E, ainda se aproveitando da situação de fragilidade a injuriou a um casal de conhecidos, causando constrangimento e situação vexatória. É impressionante como as mulheres, ao invés, de se unirem e repudiar esse tipo de situação, disputam homens comprometidos sem contar que tão logo serão vítimas também da mesma traição.  

Quanto ao ex-companheiro, diante da descoberta não se deu por vencido e negou descaradamente o episódio imputando culpa à amante. Alegando tratar-se de vítima pela investida da outra. Inclusive tentando restabelecer seu casamento, aproveitando para declarar que desconfiava de Judite e não se sentia seguro em relação aos seus sentimentos. 

Após, o término definitivo, mediante as infrutíferas tentativas de salvar o casamento e sem ter como contestar os fatos provados, lançou mão de imputá-la a culpa e distorcer os fatos justificando sua deslealdade, sem que a vítima tivesse forças para contestá-lo num monólogo arrogante e sádico.Assumindo por fim, que começou a transar com a amante justamente no aniversário da ex-companheira.

Me surpreendi com tamanha crueldade e por quê da vingança ? Seria pela beleza de Judite ? Pelo seu nível intelectual ?

No transcorrer da avaliação do caso, com os documentos apresentados, como troca de e-mails dos amantes, fotos e o diário de Judite comprovou-se a violência psicológica sofrida, o assédio moral e a personalidade daquele homem inseguro, complexado, invejoso, deformado e patológico. 

Com efeito, Judite sofreu danos morais evidentes de ambos e amargava agora, uma depressão reativa grave. Em que o estado de baixa-estima, abandono, pânico, desamparo e sofrimento por causa do rompimento de uma relação duradoura, a fez ficar doente sem condições de tomar qualquer atitude por enquanto.

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