... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Mulher Casada: Dois pesos e duas medidas...


A cada dia os relacionamentos se evaporam e raros são casamentos duradouros. Na hipocrisia da sociedade de consumo, amores são descartáveis e mulheres bem sucedidas profissionalmente se deparam com uma dura escolha, solidão ou sucesso ? Dedicação à família ou promoção profissional ? Muitas, se optam pelo casamento estarão fadadas a uma carga de compromissos e responsabilidades sem qualquer garantia de êxito. Se conseguirem suportar as exigências afetivas familiar, assim que os filhos estiverem criados farão parte do percentual estatístico, sendo facilmente descartadas por outras mais novas. 

Há as que não suportarão o tédio da dedicação exclusiva ao casamento, em que se sentem colonizadas e acabam criando rancores pela insatisfação do compromisso procurando paixões clandestinas, como uma maneira vingativa de todo descontentamento. Perdurando numa falsa relação com escapes que as permitirão continuar casadas. Ou então, as que não se importarão em trocar de marido, mantendo sucessivas relações.

No tocante, a questão da mulher e do casamento, a obra revolucionária do século XX, O Segundo Sexo de Simone de Beavoir, é senão, a mais atual mesmo nos dias de hoje. Em que a autora exprime toda desigualdade mantida em relação à mulher livre e a felicidade em seus relacionamentos.

Todavia, por mais que a mulher tenha atingido a liberdade de escolha, sua independência financeira, muitas ainda sonham com o casamento. Não é à toa que a indústria de cerimonial cresce a cada dia. Entretanto, muitos relacionamentos por mais que aparentem a perfeição, e como afirma Simone de Beauvoir "dão a impressão de uma perfeita igualdade. Mas, enquanto o homem conserva a responsabilidade econômica do casal isso não passa de ilusão. Ele é quem fixa o domicílio conjugal segundo as exigências de seu trabalho: ela acompanha-o". Portanto, está aí a desproporção em relação aos planos individuais da mulher. Apesar das conquistas, dos dias atuais, perdura a desigualdade e a mulher vai suportando as frustrações em favor do amor conjugal e da família. Mas, esse sacrifício tem um preço emocional gerando insatisfações e distanciamentos. Assim, depois de substituir todo seu investimento profissional em função da carreira do marido, a mulher torna-se inferiorizada e consequentemente subordinada. Transforma-se num objeto de uso para o marido que a trata com cobranças, principalmente na questão sexual. Não são raras as queixas da ausência de uma vida sexualmente plena, em que a mulher frustrada em sua concepção de união conjugal sublima sua condição de desejo sexual e o direciona para o consumo, a religião ou ideologias que substituem a sua condição de disponibilidade ao bel prazer do marido.

Certa vez, ouvi um curioso desabafo de uma mulher extremamente inteligente, independente financeiramente, quando da sua separação conjugal: "Agora, me sinto livre, sei que não sou frígida, tenho libido e sem a obrigação de me prostituir a cada investida do meu marido que só de imaginar que ele queria transar comigo eu gelava". Outras, tinham a mesma opinião sobre a questão sexual, "Amo meu ex-marido ainda, mas já não aguentava a cobrança sexual na época de casada. Hoje tenho um caso com ele e tenho desejo, mas não estou obrigada, acho que por isso minha vida sexual se normalizou"... "Eu não aguentava a cara de mal-humor no café da manhã e as grosserias porque não tinha vontade de transar com ele"... "Eu transava obrigada e muitas vezes me dava nojo dele"... Assim, são as inúmeras reclamações das mulheres casadas em relação a se sentirem objeto ao dispor dos maridos e frustradas no campo afetivo.

Entretanto, a separação e o divórcio não são vistos como solução pelas mesmas, mais precisamente como se fosse uma sanção penal atestando sua incompetência em manter o casamento. Outra menção à respeito quem vem de encontro a situação fática que ainda persiste é que "O divórcio para a mulher é apenas uma possibilidade abstrata, em não tendo ela meios de ganhar a própria vida: ... a sorte da mulher, da mãe abandonada com uma mesada irrisória, é um escândalo. Mas a desigualdade profunda vem do fato de que o homem se realiza concretamente no trabalho ou na ação, ao passo que, para a esposa, enquanto esposa, a liberdade tem apenas um aspecto negativo... Há jovens mulheres que já tentam conquistar essa liberdade positiva; mas raras são as que perseveram durante muito tempo em seus estudos ou sua profissão; o mais das vezes sabem que o interesse de seu trabalho será sacrificado à carreira do marido; só trarão para o lar um salário suplementar; só se empenham timidamente numa empresa que não as arranque à servidão conjugal"

Da mesma forma, que é demasiadamente estressante a posição da mulher profissional casada que acumula dupla, senão tripla jornada de trabalho, aonde a maternidade será um peso gerando culpas e desconfortos à união matrimonial pela desigualdade de funções perante as responsabilidades. Quiçá quando a mulher é divorciada e exerce a função solitária em manter a família com a irrisória mesada recebida pela guarda da prole. Como atesta novamente, Simone de Beauvoir, "Há mulheres que encontram em sua profissão uma independência verdadeira; mas são numerosas aquelas para quem o trabalho "fora de casa" não representa no quadro do casamento senão uma fadiga a mais. Aliás, amiúde, o nascimento de um filho obriga-as a confinarem-se em seu papel de matrona; é atualmente muito difícil conciliar trabalho com maternidade".

Por fim, essa desunião de gêneros, devido a desigualdade imposta pelo modelo machista do patriarcado, marca a disputa de demarcação no território afetivo, seja pelo fracasso das relações voláteis ou pela insuportabilidade da posição inferiorizada da mulher. A qual ganhou liberdade pela independência financeira, mas ainda almeja a felicidade na expectativa do casamento.

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